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Em ritmo acelerado

Apesar do passo lento da economia brasileira, há uma movimentação frenética em algumas áreas do mundo empresarial. Compras de controle acionário, fusões e aquisições correm a todo vapor em setores mais diretamente beneficiados pelo crescimento do consumo no país. Um sinal de que as perspectivas para o futuro podem não ser tão sombrias quanto parecem demonstrar os números da macroeconomia.

Pelo menos seis grandes operações têm chamado a atenção do mercado. A maior delas é a possível venda do laboratório Aché, que faturou R$ 1,4 bilhão em 2011. Os controladores da empresa contrataram para assessorá-los nesse processo a butique especializada em fusões e aquisições Signatura Lazard. Procurado pelo Correio, no entanto, o Aché disse que não está à venda.

Em outra grande transação, a área de capital de risco do banco de investimento BTG Pactual estaria em negociações avançadas para comprar as redes de moda feminina Farm e Animale. As marcas cariocas, com uma centena de lojas espalhadas pelo país, faturam R$ 600 milhões por ano. Procuradas, as duas grifes preferiram não dar informações. O BTG, por sua vez, informou que não comenta “rumores de mercado”.

No setor de lácteos, a Lala, maior companhia mexicana do setor, estaria interessada em adquirir uma fatia de 49% da Itambé, terceira maior do Brasil. A LBR, maior processadora de leite do país, também estaria na mira de investidores estrangeiros. As duas empresas não responderam aos pedidos de informação do Correio.

No segmento de movéis e decoração, a Etna estaria disposta a vender 40% do negócio, e pelo menos três fundos de investimento foram procurados. A operação seria uma forma de a companhia se capitalizar para enfrentar a Tok & Stok, comprada pelo fundo americano Carlyle por R$ 700 milhões. A Etna disse ao Correio  que não comentaria as informações.

Por último, a rede brasileira de livrarias Saraiva está no centro de uma disputa entre as americanas Amazon, gigante do comércio eletrônico, e Barnes & Noble, também do ramo de venda de livros. As empresas competem para trazer ao Brasil os equipamentos de leitura digital, que são sucesso de vendas nos Estados Unidos.

Consumo
Na avaliação do presidente da consultoria Latin Link, Ruy Coutinho, apesar de a economia brasileira viver um momento de incertezas, os investidores estão de olho no setor de consumo, que nos últimos anos tem sustentado o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Ele ressalta que, com o aumento de renda e o movimento de ascensão social das camadas de menor renda, a demanda por produtos que estavam apenas nos sonhos da população disparou.

Coutinho ressaltou que o movimento intenso de transações entre as companhias demandará muita atenção do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). “Além de ser o ano em que grandes negócios serão realizados, 2013 verá os processos de abertura de capital em bolsas de valores serem retomados por companhias que pisaram no freio em 2012”, opina.

Para o presidente da Latin Link, empresas brasileiras dos setores de varejo e de tecnologia da informação estão na mira de grandes fundos de investimento internacionais interessados em adquirir fatias de companhias ligadas à pujança do mercado consumidor interno. “A retomada dos negócios será intensa”, completa.

Atratividade
Dados da PwC Brasil indicam que o ritmo de fusões e aquisições apresentou um pequeno aumento de 2,5% em 2012, período em que 770 operações foram realizadas. Foi o segundo melhor resultado desde 2002, inferior apenas ao de 2010, quando 799 processos de compra e associação ocorreram.

Conforme Alexandre Pierantoni, sócio da PwC, o cenário positivo é fruto da confiança do investidores nacionais e estrangeiros no retorno que terão com os recursos aplicados no país. Nesse contexto, as operações para adquirir participações majoritárias em companhias brasileiras representam mais de 50% do total de transações feitas no país. Além disso, 50% dos negócios fechados envolvem investidores estrangeiros.

Ele acredita que a atratividade do Brasil continuará em alta, mesmo com as constantes interferências do governo nos rumos da economia. Pierantoni crê que os setores de logística, higiene e limpeza, bens não duráveis e veículos continuarão a ter bom faturamento nos próximos anos. “Há uma aposta grande na retomada do crescimento da economia e na consolidação de setores muito pulverizados no mercado brasileiro”, diz.

Recuperação
Para Rogério Sobreira, economista da Escola Brasileira de Administração e Empresas (Ebape), da Fundação Getulio Vargas (FGV), a pujança de alguns setores está ligada à independência das empresas em relação a estímulos do governo. Ele explica que, apesar do momento de incertezas pelo qual a economia nacional passa, companhias ligadas ao consumo e à demanda das classes que ascenderam socialmente continuarão a ter bom resultados.

Sobreira diz que esse crescimento exigirá novos investimentos, o que vai manter aquecido o processo de fusões, aquisições e abertura de capital. “As empresas precisam de recursos para crescer e atender a classe média. Esse bom momento é aproveitado pelas que são listadas na bolsa. São as que mais crescem”, comenta.

Apesar da euforia, ele ressalta que o governo precisa deixar claro que políticas implementará a longo prazo para que grandes investidores reabram a torneira de recursos para modernizar parques industriais e apostem no país. “Baixar impostos por oito meses não é uma medida que estimulará empresários a investir. É preciso que haja estabilidade nas regras do jogo. O governo Dilma tem demonstrado boa vontade em atacar os gargalos da economia brasileira, mas é necessário mais para conseguir a retomada da indústria, por exemplo”, explica.

Fonte: Correio Braziliense

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