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Fibra de açaí pode ser alternativa barata na produção de MDF

Trabalho de pesquisador amazonense mostra o potencial da fruta para substituir o eucalipto na produção do material, muito usado na fabricação de móveis e na construção civil

Uma alternativa encontrada pelo pesquisador amazonense Antonio de Lima Mesquita, 53, pode ser a solução para revolucionar a produção de painéis de Fibra de Média Densidade, popularmente conhecidas como MDF, na indústria brasileira e internacional.

 

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A maioria dos painéis de MDF usados atualmente no mundo são produzidos a partir da árvore do eucalipto, num processo longo e caro, mas que tem mercado por estar entre os materiais mais versáteis utilizados na indústria moveleira e na construção civil.

O pesquisador descobriu, numa pesquisa de quatro anos e dois de testes, que a fibra extraída da semente do açaí pode ser utilizada na produção de painéis particulados de média densidade (ecopainéis) com custo zero ou muito baixo de matéria prima. Mesquita constatou que a fibra do açaí é tão resistente quanto à do eucalipto. Porém, o compósito (união de fibra mais resina, que vulgarmente é chamado de painel) do eucalipto é oriundo da madeira, sendo que o do açaí é proveniente de fibra vegetal que teoricamente seria menos resistente.

Segundo o pesquisador, há experiência de painéis de MDF produzidos com fibra do coco verde, palha de arroz, sobra do bagaço da cana de açúcar e casca de amendoim. Mas nenhum apresenta a mesma resistência do painel do açaí comparado apenas a resistência da madeira.

Além da indústria moveleira e construção civil, o painel do açaí pode ser usado também para isolamento acústico, arquitetura e designer de interiores.

A descoberta se tornou tese de doutorado de Mesquita numa parceria entre as universidades do Estado do Amazonas (UEA), instituição na qual ele é professor, a Federal do Pará (UFPA) e a de Pirassununga, em São Paulo (USP/Pirassununga). A pesquisa será apresentada no 1º Congresso Luso-Brasileiro de Materiais de Construção Sustentáveis, que será realizado em Guimarães, em Portugal, entre os dias 5 e 7 deste mês.

O pesquisador é formado em Biologia e precisou se reinventar acadêmica e profissionalmente para colocar em prática a ideia de produzir painéis de fibra de açaí.

Eles foram submetidos a todos os tipos de testes necessários estabelecidos por organizações de normas técnicas nacionais e internacionais e passou em todas, entre elas, as regulamentadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e da American Society for Testing and Materials (ASTM).

Entre os testes estão o mecânico para verificar a resistência do painel a parafuso, além de teste físicos de adesão, absorção da água, flexibilidade, tração e ponto de quebra. A fibra do açaí apresentou resultados surpreendentes porque não se encaixa nos padrões comuns de fibras vegetais, mas nos de madeira natuaral.

Caroço de açaí é jogado fora quando poderia ser empregado na economia

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A ideia de Antônio Mesquita (foto) é compartilhar o conhecimento que obteve na pesquisa com comunidades ribeirinhas e carentes para que tenham uma fonte de renda e coloquem em prática o significado de sustentabilidade. Ele ressalta que a população desconhece o valor econômico e social do caroço do açaí e o descarta sem cuidado devido. “É dinheiro que está jogado no lixo todos os dias”, disse. Ele sugere que cooperativas podem ser criadas em comunidades para processar as semente e extrair a fibra que pode ser usada na produção direta dos painéis ou vendidas para as empresas que trabalham com MDF. “É um sonho para as pessoas possam criar cooperativas e ter renda, mas isso só é possível com políticas públicas que envolvem as três esferas de governo e entidades de fomento ao empreendedor”, destacou.

Outra vantagem, segundo Mesquita, é que o fruto fica limpo após a retirada da fibra e o que sobra pode ser usado para artesanato, biojóias, corante natural e até como combustível obtido por briquetes (lenha ecológica capaz de substituir com eficiência o gás e o carvão vegetal).

Ele chama atenção que os caroços do açaí são deixados em sacos na frente dos locais onde o alimento é produzido, sendo que o carro coletor não se responsabiliza pelo descarte do material. “O que acaba acontecendo é que ou os frutos vão parar no esgoto ou o dono estabelecimento paga alguém para levar as sementes para um destino ignorado. Se aproveito o lixo e dou um destino nobre a ele, estou fazendo uma inovação tecnológica. É sustentabilidade. Não há como separar a sustentabilidade econômica da social e ambientalporque é um tripé”, disse.

Fonte: http://bit.ly/QA0Cwc

Foto:Clóvis Miranda

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