O comércio do país registrou em julho seu pior momento desde 2010 para dois segmentos: móveis e eletrodomésticos e tecidos e vestuário, ambos batendo recordes de demanda insuficiente. Segundo a Sondagem do Comércio da Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgada nesta quarta-feira (31), entre os comerciantes de móveis e eletrodomésticos, 38% citaram a falta de demanda como o principal fator de limitação para seu crescimento – o segmento esteve aquecido ao longo de 2012 e início de 2013 por conta das isenções e reduções fiscais.
No setor de tecidos e vestuário, 48% dos entrevistados atribuíram à demanda insuficiente a dificuldade de crescimento. No comércio como um todo, a demanda insuficiente impactou o crescimento de 22,4% dos entrevistados, mostrando um mercado desaquecido.
Segundo o economista Aloisio Campelo Junior, superintende-adjunto de Ciclos Econômicos do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), o segmento de vestuário foi especialmente impactado pelas manifestações de junho e julho, citadas pelos comerciantes, uma vez que lojas sofreram depredações e saques. Outros indicativos de mercado desaquecido citados pela sondagem a partir da pesquisa junto a comerciantes foram o custo financeiro e o acesso ao crédito bancário.
IPI
Reduzido em 2012, o IPI de móveis e eletrodomésticos começou a subir em feveireiro. As alíquotas sofreram uma nova elevação em julho. A previsão, no entanto, é que as alíquotas “originais” só sejam recompostas a partir de outubro.
Confiança
O Índice de Confiança do Comércio (Icom), apurado pela Sondagem do Comércio, registrou queda de 3,4% no trimestre móvel encerrado em julho, na comparação com o mesmo período do ano passado. No trimestre de junho a queda tinha sido menor, de 3,0%. Com o resultado, o indicador ficou em 121,1 pontos, o menor da série histórica, iniciada em março de 2010.
“O cenário do comércio parecia que ia melhorar em junho, com a desaceleração da inflação dos alimentos, mas a piora do cenário impactou a percepção em julho sobre vendas e negócios. E a percepção da situação atual foi pior do que a expectativa para os próximos meses. A recuperação das vendas vai ser mais modesta nos próximos meses. A pior expectiva é a dos vendedores de bens duráveis, como eletrodomésticos e automóvies, devido à alta de taxa de juros, menor acesso ao crédito e comprometimento da renda das famílias”, disse Campelo.
Ele explica que o comércio terminou o primeiro semestre em menor ritmo com a desaceleração da massa salarial. “O emprego não cresce tanto como no ano passado, assim como o consumo da famílias. A inflação impactou no início do ano”, disse.
A sondagem mostra ainda que, para o setor de material de construção, o fator limitador ao crescimento mais citado foi a falta de espaço físico. E o setor é também o único a mostrar melhora no índice de confianca, na avaliação da situação atual e nas expectativas para próximos meses.
“O setor de material de construção melhorou, pode ser a expectativa de que o governo vá acelerar obras de infraestrutura. O segmento de hiper e supermercados também pode melhorar se o ambiente tenso das manifestações de junho e julho desanuviar. Mas tem uma limitação: vendas a prazo podem ficar contidas por conta do aumento e juros, do comprometimento da renda e da baixa confiança do consumidor”, disse ele.
Também o Índice de Confiança de Serviços (ICS) caiu em julho – 6,4% na comparação com junho ao passar de 119,4 pontos para 111,7 pontos, atingindo o menor nível desde junho de 2009 (110,2), segundo a Sondagem de Serviços da FGV, divulgada nesta quarta. Os destaques foram serviços de transportes (recuo de 5,6%), serviços prestados a empresas (-4,6%), serviços de informação (-10,6%) e serviços às famílias (-5,6%).
De acordo com a FGV, a queda da confiança foi disseminada, atingindo 11 de 12 segmentos pesquisados, e sua intensidade pode estar relacionada às manifestações populares que tomaram as ruas das principais cidades do Brasil em junho.
Enquanto a sondagem de comércio mosrava avaliação negativa sobre a percepção da situação atual, mas positiva para as expectativas, a sondagem de serviços mostra cenário negativo de 6,4% tanto na confiança, como na percepção atual, e de -6,5% também nas expectativas. O mesmo comportamento é verificado na análise da média do trimestre encerrado em julho.
“A avaliação sobre o momento presente cai pela quarta vez consecutiva. O índice de expectativas, que parecia esboçar uma interroção da queda no mês anterior, votou a reuar em julho”, explicou o economista do Ibre Silvio Sales.
Fonte: Portal G1 Rio de Janeiro