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Dólar alto dá ‘empurrãozinho’ a setores que perderam espaço

altAfetada fortemente pela crise econômica, a indústria brasileira tenta uma estratégia para voltar a crescer e se agarra à moeda americana, que anda em alta, para compensar a falta de competitividade. A valorização do dólar frente ao real, que começou em meados do ano passado, incentivou a retomada das exportações, favoreceu investimentos, adiou demissões e até forçou contratações em alguns setores. Assim, o câmbio começa a amenizar o quadro de desindustrialização. Seja porque o produto brasileiro ficou mais barato lá fora ou porque o importado ficou caro e a indústria tem a oportunidade de recuperar o mercado interno.

 

 

O setor de brinquedos é um exemplo. Este ano, a estimativa é recuperar 1,5 ponto percentual dos 45% do consumo nacional que estão nas mãos dos chineses. O número pode parecer pequeno, mas não é: significa R$ 142 milhões de faturamento ou o trabalho de duas grandes fábricas com 180 funcionários cada uma, por um ano inteiro. A aposta é em brinquedos com a cara do Brasil. Segundo fontes do setor, fenômenos como Galinha Pintadinha vendem mais que produtos da Disney por aqui. Patati Patatá também é campeão de vendas. E a clássica Turma da Mônica já encanta crianças chinesas e de Hong Kong.

 

— Eu preciso expulsar o chinês, que tomou nosso mercado. A indústria nacional quer de volta (o mercado interno) — afirma Synésio Batista da Costa, presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq).

 

CUSTO BRASIL

 

A tarefa não é fácil: os brinquedos chineses são, em média, 45% mais baratos que os nacionais, não apenas pelo câmbio, mas por todo o custo Brasil embutido nos produtos. O dólar alto ajuda, mas o impacto no setor só será realmente visto a partir de junho, quando as feiras internacionais de compras de varejistas começarem. A aposta é de aumento não só pelas vendas lá fora, mas pela queda nas importações. Segundo o presidente da Estrela, Carlos Tilkian, a empresa deve comprar 25% de brinquedos de outros países neste ano. Em 2014, importou 35% do estoque. Mesmo assim, não comemora:

 

— O câmbio dá um alívio, mas a produção nacional é punida por outros fatores: impacto brutal do custo da energia e do frete com o reajuste dos combustíveis e o aumento da carga tributária. O setor de brinquedos corre o risco de perder o benefício da desoneração da folha. Estamos bastante preocupados.

 

Apesar dos problemas, empresas que já trilhavam o caminho da internacionalização aceleraram projetos estimuladas pelo câmbio. É o caso do empresário Sebastião Adorno, de Brasília. Em 2008, ele criou a Flex Deck para exportar placas de madeira aos EUA. Com a crise global, a saída foi voltar-se ao mercado interno. Tudo ia bem até 2013, quando a desaceleração da economia brasileira forçou a retomada dos projetos de exportação, mesmo com o câmbio desfavorável, para compensar a queda de 70% nas vendas no País.

 

Com a recente alta do dólar, a Flex Deck passou a exportar para todos os estados americanos e para o Canadá. No ano passado, começaram os embarques para a Arábia Saudita. O faturamento chegou a US$ 1,8 milhão. Depois, expandiu os negócios para a Rússia, China, Emirados Árabes e Catar. Só neste ano, as vendas somaram US$ 2 milhões. Mesmo assim, por causa do mercado interno em baixa, Adorno teve que demitir 19 funcionários.

 

— Se não fosse o mercado externo, teria fechado a empresa — afirma Adorno.

— Algumas empresas mantiveram exportações até não lucrativas para continuar presentes no mercado. Para essas é mais fácil reagir. Para as que abandonaram o mercado mundial leva mais tempo. Mas o empresário brasileiro é pragmático e a resposta pode ser mais rápida do que a gente pensa — diz o gerente-executivo da Unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco.

 

EFEITO DE COMPENSAÇÃO

 

No caso dos exportadores de commodities, o refresco causado pelo câmbio é ainda mais importante em razão da queda dos preços dos produtos no mercado internacional. A venda do café especial da fábrica mineira Carmo Café cresceu 60% no ano na comparação com o mesmo período do ano passado, informa o dono, Luiz Paulo Dias Pereira Filho. A empresa conquistou novos mercados, como Taiwan e Austrália, e elevou as vendas ao Japão em 30% e aos EUA, em 40%.

 

— O preço internacional do café está muito baixo, mas não está no sinal vermelho. E com o dólar mais alto, somos mais competitivos lá fora — destaca.

 

As exportações de serviços pegaram carona na esteira da alta do dólar. Nos últimos 12 meses, os brasileiros exportaram US$ 5 milhões em design para países como Estados Unidos, Peru, Colômbia e México.

 

— Design é a principal forma de aumentar exportação porque é por ele que as empresas agregam valor aos seus produtos — frisou o presidente da Abedesign, Andre Poppovic.

 

No setor de carnes, o benefício do câmbio também foi sentido. A expectativa da Associação Brasileira da Indústria de Carnes (Abiec) é que a reabertura de mercados como Arábia Saudita, e a volta dos embarques para a África do Sul e Iraque contribuam para o aumento das exportações no segundo semestre.

 

A JBS, por exemplo, já mostra resultados. Além de estimular as exportações, o dólar ampliou as vendas nas filiais da empresa no exterior, principalmente, nos Estados Unidos. O lucro líquido do primeiro trimestre foi de R$ 1,4 bilhão: nada menos que 1.892% acima do obtido no mesmo período de 2014. Por números assim, a torcida da indústria é para que o dólar volte a aumentar e chegue ao patamar de R$ 3,30.

Fonte: Portal Globo.com

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