Após o desempenho positivo observado nos últimos dias, os mercados têm um dia de ajustes hoje, movidos, entre outros fatores, pelo resultado surpreendentemente elevado do IPCA de março. O dólar voltou a subir, seguindo o movimento da moeda no exterior, enquanto o Ibovespa opera em queda, tentando preservar a linha dos 51 mil pontos.
Os juros futuros, por sua vez, sobem, reagindo ao resultado da inflação do mês passado, que coloca em xeque a aposta de que o Banco Central pode interromper o ciclo de aperto monetário. O IPCA subiu 0,92%, acima da média das estimativas colhidas pelo Valor Data, de 0,85%.
No exterior, as bolsas operam em alta, na expectativa pela divulgação da ata da última reunião do comitê de política monetária do Federal Reserve. A reunião, a primeira sob o comando de Janet Yellen, terminou com a decisão de cortar pela terceira vez o programa de compra de bônus do banco central americano. Espera-se que o documento traga o diagnóstico da autoridade monetária sobre o rumo da economia americana, cuja recuperação ainda não se consolidou.
Bolsa
O Ibovespa segue na contramão dos mercados internacionais e cai, num movimento de correção que é turbinado pelo IPCA mais salgado. O índice recuava 1,06% às 13h37 horas, para 51.084 pontos.
Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para a América Latina do Goldman Sachs, diz hoje em nota que as pressões inflacionárias foram generalizadas no IPCA e estão disseminadas pela economia. Isso significa que a inflação não ligada a alimentos também está alta. Essa pressão eleva as chances de que o Banco Central tenha de elevar novamente a Selic em 0,25 ponto percentual no encontro de 28 de maio, afirma.
O movimento de correção também atinge as ações de estatais, que puxaram os ganhos das últimas semanas. Eletrobrás ON lidera as quedas do Ibovespa, com 7,26%, seguida por Eletrobrás PNB, com baixa de 6,18%. Banco do Brasil ON perde 4,05%. Petrobras PN cai 1,88%.
Também na lista de principais baixas estão Usiminas PNA, com queda de 6,15%, e CSN, com baixa de 4,79%. Operadores comentam que o mercado aguarda o julgamento, hoje, do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre a compra das ações da empresa mineira pela CSN, em 2011. O mercado teme que a CSN tenha que se desfazer de parte de sua fatia na rival, o que pode pressionar os papéis da Usiminas.
Câmbio
O dólar ganha força ante o real nesta quarta-feira, operando perto das máximas do dia, pouco abaixo de R$ 2,22. Segundo o operador de câmbio de um banco dealer, o fortalecimento decorre de um ajuste técnico após a moeda americana ter recuado 3,46% em apenas três dias.
Além disso, a valorização do dólar se intensificou depois de o Banco Central reportar uma saída de quase US$ 2 bilhões do país apenas nos quatro primeiros dias de abril, que fez minguar o saldo positivo de moeda estrangeira neste ano. A saída entre os dias 1º e 4 de abril foi de US$ 1,899 bilhão, o que reduziu o superávit no ano a US$ 159 milhões.
Às 13h, o dólar comercial subia 0,77%, para R$ 2,22. O contrato futuro do dólar para maio avançava 0,74%, a R$ 2,2315.
No exterior, é a expectativa pela divulgação da ata da mais recente reunião de política monetária do Federal Reserve (banco central americano) que dá o tom dos negócios. “A ata do Fed deve reforçar a ideia de que uma alta de juros nos Estados Unidos ainda deve demorar. Se o Fed der essa sinalização, o dólar deve voltar a cair no mundo e por aqui pode finalmente se firmar abaixo dos R$ 2,20”, diz o profissional da área de derivativos de uma grande corretora em São Paulo.
Juros
O resultado salgado do IPCA de março e a alta do dólar justificaram uma correção nos juros futuros, que voltaram a subir nesta quarta-feira. Com a variação de 0,92% em março, o IPCA deve superar o teto da meta (de 6,5%) já no mês de maio e permanecer acima desse limite até novembro, prevê o economista-chefe da Mauá Sekular, Alessandro del Drago. Isso, a despeito da perspectiva de alívio da inflação mensal daqui para frente, uma vez que o choque agrícola começa a dar sinais de desaceleração. “O dado de hoje dificulta a materialização da vontade do Banco Central de encerrar o ciclo de aperto monetário já em maio”, afirma.
Amanhã, o mercado vai ler a ata da última reunião do Copom, que não contemplará o resultado do IPCA de março – ou seja, já ficará “devendo” alguma explicação sobre essa deterioração da inflação. As apostas para o rumo da política monetária, portanto, ficarão sujeitas a novas declarações da autoridade monetária e aos próximos indicadores. Na dúvida, o mercado deve manter uma boa dose de prêmio de risco.
Na BM&F, DI janeiro/2017 opera a 12,31% (12,17% no ajuste de ontem). DI janeiro/2015 tem taxa de 11,11% (11,06%).
(Lucinda Pinto, Aline Cury Zampieri e José de Castro | Valor)
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