O crédito utilizado por beneficiários do ‘Minha Casa Melhor’ foi responsável por cerca de um terço do crescimento das vendas de móveis e eletrodomésticos em 2013. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o avanço do volume comercializado pelo setor foi de 5% no ano passado. Especialistas dizem que a expansão teria ficado entre 3,4% e 3,6% se não fosse o programa, que financia até R$ 5 mil em compras desses itens para beneficiários do ‘Minha Casa, Minha Vida’.
A medida rebateu também sobre as vendas do comércio restrito como um todo. Do crescimento de 4,3% registrado pelo IBGE, 0,2 ponto porcentual foi devido as compras do Minha Casa Melhor, segundo os cálculos feitos pela economista Mariana Oliveira, da Tendências Consultoria.
“Parece pouco, mas considerando que outros itens pesam mais, é um desempenho importante”, disse Mariana. No setor de móveis e eletrodomésticos, onde se concentram os produtos que podem ser adquiridos com o benefício, o Minha Casa Melhor explica 1,4 ponto porcentual da alta de 5% nas vendas, nas estimativas da Tendências. Ainda assim, o desempenho observado pelo IBGE foi o pior desde 2009, quando o setor expandiu as vendas em 2,1%.
Para o economista Paulo Neves, da LCA Consultores, o impacto no segmento é ainda maior, de 1,6 ponto porcentual. Sem o programa, portanto, as vendas de móveis e eletrodomésticos teriam avançado 3,4%. O estímulo responde por cerca de um terço da alta das vendas do segmento nas duas estimativas. “Teria sido pior se não fosse o Minha Casa Melhor, a desaceleração seria mais intensa”, disse.
No resultado geral do varejo restrito, o impacto foi de 0,1 ponto porcentual na estimativa da LCA. “Mas estamos falando de um grupo que não tem peso muito expressivo no varejo e acabou dando uma contribuição maior”, ponderou Neves.
Segundo a Caixa Econômica Federal, o crédito contratado desde junho (quando o programa foi anunciado) até dezembro 2013 chegou a R$ 1,9 bilhão. Desse montante, R$ 1,2 bilhão foi efetivamente utilizado.
Endividamento e renda baixa limitaram maior expansão
A desaceleração da renda e o endividamento das famílias também limitaram o programa ‘Minha Casa Melhor’. O volume de recursos utilizado pelos beneficiários ficou abaixo das estimativas.
A economista Mariana Oliveira, da Tendências Consultoria previa um gasto efetivo de R$ 1,9 bilhão, R$ 700 milhões a mais do que mostraram os dados da Caixa Econômica Federal.
“O programa começou com bastante fôlego, mas perdeu força. O número de famílias também ficou aquém do esperado”, avaliou Mariana, que esperava 500 mil famílias beneficiadas em 2013. No entanto, segundo a CEF, pouco mais de 383 mil contratos foram firmados no ano passado.
O avanço do programa, na visão do economista Paulo Neves, da LCA Consultores, esbarra principalmente na saturação. “A população não vai responder sempre que tiver nova medida. O estímulo é cada vez menos eficiente porque ela já está equipada”, disse.
Além da desaceleração da renda, a inflação elevada ajudou a corroer os ganhos das famílias menos abastadas, alvos do programa. “Apesar do crédito disponível, a decisão de consumo passa por perspectiva de elevação de renda e capacidade de pagamento futuro”, analisou Mariana.
Neste ano, as perspectivas não são muito mais favoráveis para o varejo. Neves, da LCA, prevê aumento de 2,4% nas vendas de móveis e eletrodomésticos e de 4% no varejo restrito.
Fonte: Diário do Amazonas