A Confederação Nacional da Indústria (CNI) lança nesta quinta-feira o projeto Norte Competitivo, que aponta nos eixos de integração prioritários na área de transportes e logística para os nove estados da Amazônia Legal. Os projetos, resultado do mapeamento das 16 principais cadeias produtivas que são responsáveis por 95% da produção local e 98% de tudo o que é exportado e importado pela região, demandariam investimentos de R$ 14,1 bilhões, alguns dos quais incluídos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal.
Responsável direto pelo projeto, o mais completo levantamento sobre a infraestrutura logística da Amazônia Legal, englobando todos os modais de transporte (ferrovias, hidrovias, rodovias e portos), Olivier Girad estima que dos 151 projetos do Norte Competitivo a metade faça parte do PAC.
– Nesses 151 projetos tem muitas coisa que está no PAC. O problema é que tem muita coisa importante que não está no PAC. A hidrovia Juruena-Tapajós, por exemplo, não está prevista no PAC. Existem também alguns casos previstos no PAC mas que não resolvem todo o problema, como a BR-364, que faltam alguns complementos – observou.
A economia gerada pelos nove estados – Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins – é atualmente de R$ 17 bilhões e deve chegar a R$ 33,5 bilhões em 2020, levando em consideração a produção prevista. Com a execução dos projetos, que incluem mais de 50 produtos das cadeias produtivas, a economia no custo de logística chegará a R$ 3,8 bilhões por ano em 10 anos.
– O investimento total previsto se pagaria em menos de quatro anos com a econo mia – garante o engenheiro Renato Pavan, da Macrologística, empresa contratada para fazer o estudo, que pre vê também investimentos privados.
Mesmo com alguns projetos incluídos no PAC, a visão do governo não está ajustada à visão econômica proposta pelo Norte Competitivo.
– O PAC é um primeiro passo, importante. Agora o que tem que ser feito é juntar PAC com esse projeto – recomendou Olivier, que lembra que qualquer hidrelétrica construída no país, conforme normas da Agência Nacional das Águas (ANA), precisa estar associada com um estudo de viabilidade de construção de eclusas.
– Se não for assim (com hidrovias) nós vamos ter outras hidrelétricas como Estreito, Jirau, Santo Antonio sendo construídas sem eclusas, bloqueando a economia do país. Eletricidade é muito importante para o país, mas não podemos bloquear a economia. Não podemos descartar a movimentação de cargas por hidrovia, que é o mais barato. A redução de custos é de 40%.
De acordo com Olivier Girard, o setor logístico precisa se mobilizar para defen der as hidrovias:
– Caso contrário nós vamos ter um monte de hidrelétricas sendo construídas, o que é perfeito, ótimo para o país, mas vão matar a nossa principal fonte de movimentação. O Brasil tem 48 mil quilômetros de rios e a gente movimenta muito pouco. É a nossa maior fonte logística e a gente não movimenta esses rios.
O atual momento político do país, com as eleições da presidente Dilma Rousseff, de novos governadores e de um novo Congresso Nacional, de acordo com o responsável pelo Norte Competitivo, “caiu como uma luva” para que todos os setores da economia regional e nacional, em especial o setor de transportes e logística, defendam o projeto.
– Estamos começando um novo governo, temos uma nova presidente eleita, temos novos governadores. É agora, quando os projetos começam a ser idealizados, a hora de dizer: ‘É isso que queremos.’ Por isso o momento caiu como uma luva, perfeito para lançar esse projeto – defendeu Olivier, que lembra ainda que os nove estados da Amazônia Le gal juntos tem 27 senadores, um terço do Senado.
Portos, aeroportos, armazéns, hidrovias, ferrovias, dutovias e rodovias de uma região que é quase do tamanho da Europa foram mapeadas, as condições de uso analisadas e com a identificação das obras necessárias. O resultado foi a necessidade de 151 obras, 112 em eixos nacionais e 39 em eixos internacionais, envolvendo paí ses fronteiriços à região. No curto prazo, no entanto, 34 projetos foram considerados prioritários, totalizando investimentos de R$ 6,8 bilhões.
Para que esses projetos cheguem a possíveis financiadores, do PAC, da iniciativa privada e de parcerias público- privadas, uma força-tarefa será montada, tendo à frente a CNI e as federações das indústrias dos nove estados – Pará (Fiepa), do Mato Grosso (Fiemt), do Amazonas (Fieam) e do Maranhão (Fiema), Acre (Fieac), Amapá (Fieap), Rondônia (Fiero), Roraima (Fier) e Tocasntins (Fieto).
– O superávit brasileiro previsto este ano é de R$ 16 bilhões. Esses R$ 16 bilhões vão sair do Pará e do Mato Grosso, que vão trazer para o Brasil cerca de R$ 8 bilhões cada um. Esses dois estados do Norte vão representar o superávit brasileiro. Se você analisar os investimentos que são feitos no Pará e no Mato Grosso são muito pequenos em relação à contribuição que dão ao país – lembrou o empresário Jandir José Milan, presidente da Fiemt.
Durante o trabalho foram identificados os locais de produção, os tipos de produtos e o destino final para que fossem traçadas as principais rotas de escoamento. Um sotfware especial analisou 32 origens, 38 destinos e 33 diferentes tipos de produtos que utilizam uma malha logística de 932 rotas de ligação.
Identificados 42 eixos de integração de transporte, incluindo 13 eixos internacionais, todos foram analisados do ponto de vista da competitividade. O resultado mostrou que 32 geraram economias significativas. A hidrovia Juruena-Tapajós foi a que apresentou o maior potencial de redução de custo logístico, tanto com o volume de produção de 2008 (economia anual de R$ 921 milhões) quanto na projeção para 2020 (R$ 1,85 bilhão).
Fonte: Portal o Globo